O britânico Jack Draper, atualmente número 1 do Reino Unido e uma das promessas do tênis mundial, concedeu uma entrevista exclusiva ao blog Esporte Tênis em Londres, onde falou abertamente sobre sua lesão no braço, os desafios de uma recuperação complicada e a dura realidade do circuito internacional. Além disso, Draper comentou sobre a incrível sequência dos jovens astros Carlos Alcaraz e Jannik Sinner, que vêm dominando as principais competições do circuito.

O baque da lesão e a falsa esperança

Depois de um ano promissor, com seu maior título conquistado em Indian Wells e a final do Masters 1000 de Madrid, Draper chegou a Wimbledon com o ranking elevado – ocupando a 4ª posição mundial. No entanto, uma derrota precoce para o experiente Marin Cilic levantou um problema grave: dores intensas no braço esquerdo. Exames iniciais apontaram um edema ósseo, com previsão de recuperação de oito a nove semanas, justamente o tempo que faltava para o início do US Open.

“Eu tive que lidar com uma avaliação errada que me deu uma esperança falsa”, revelou Draper. Apesar disso, o jovem atleta de 23 anos decidiu competir em Nova York, mas sentiu que a dor persistia. Após uma partida, viu-se obrigado a abandonar o torneio e, mais tarde, optou por encerrar a temporada para permitir a cura total do problema.

A dificuldade de acompanhar Alcaraz e Sinner

Enquanto Draper esteve fora das quadras, os fenômenos Carlos Alcaraz (Espanha) e Jannik Sinner (Itália) aceleraram suas carreiras, conquistando três finais consecutivas de Grand Slam entre eles e elevando ainda mais o nível do circuito. “É difícil assistir porque eu estava numa trajetória tentando alcançar esses caras. Eles têm sido referência e inspiração”, comentou Draper, que é parte da mesma geração, ficando somente alguns meses mais novo que Sinner e um pouco mais velho que Alcaraz.

Ambos os jovens craques dominaram o ranking mundial nos últimos meses e já têm o dobro dos pontos do terceiro melhor do mundo, Alexander Zverev, deixando claro o domínio que exercem nas competições.

Preparação para 2026 e autoconhecimento

Com a contratação do treinador Jamie Delgado e uma nova parceria com a marca Vuori, Draper está focado em uma volta por cima na temporada 2026. “Tenho muito a evoluir, tanto física quanto mentalmente. Preciso ser mais agressivo e usar minhas armas para competir com os melhores”, disse ele, reconhecendo que a pressa em voltar ao circuito pode ter agravado sua lesão.

Críticas ao calendário e ao modelo do tênis profissional

Além da recuperação, Draper refletiu sobre as exigências do circuito atual, destacando a necessidade de adaptações em função da crescente intensidade física do esporte. “Tennis é um esporte onde os jogadores são o principal ativo, mas a comunicação entre Grand Slams, ATP, WTA e ITF é muito fraca”, criticou o britânico, referindo-se à falta de colaboração para lidar com o calendário extenso, bolas mais macias, superfícies lentas e avanços tecnológicos nas raquetes, que aumentam a duração e o desgaste dos jogos.

Ele citou o recente rompimento do tendão de Aquiles do jovem Holger Rune como exemplo dos desafios físicos enfrentados pelos jogadores.

Movimento por mudanças no circuito

Em agosto, Draper assinou uma carta coletiva junto a outros atletas de elite tanto do ATP quanto do WTA, pedindo reformas no calendário e maiores contribuições para fundos de apoio aos jogadores, incluindo pensões, saúde e licença maternidade. Os tenistas querem que os Grand Slams reservem até 22% de sua receita para a premiação nos próximos cinco anos, além de um envolvimento maior com o bem-estar dos atletas menos ranqueados.

Premiações em alta, mas a luta por transparência continua

Apesar de seus pedidos, Draper reconhece que o tênis é uma das modalidades esportivas mais bem remuneradas. Alcaraz e Aryna Sabalenka faturaram juntos quase 4 milhões de libras com seus títulos no US Open 2025. Mesmo com parte da temporada perdida, Draper acumula cerca de 2.6 milhões de libras só esse ano, e mais de 6 milhões em sua carreira.

“Eu entendo que a gente ganha muito dinheiro. Meu avô trabalhou 50 anos em supermercado e quando mostro pra ele, fico até surpreso”, relatou Draper, esclarecendo que a luta não é por mais dinheiro simplesmente, mas por mudanças positivas e maior transparência no esporte.

Nova fase com Vuori e expressão pessoal

Com o término da parceria com a Nike, Draper escolheu Vuori, marca conhecida pelo estilo californiano e foco em autenticidade, para vestí-lo. Ele valoriza a possibilidade de inovar no visual e expressar sua personalidade, algo raro no tênis, onde os uniformes costumam ser padronizados entre jogadores e patrocinadores.

“Quero ser único. O tênis permite que cada um mostre seu jeito em quadra, e a Vuori combina com isso”, afirmou o britânico, já vislumbrando uma nova fase sob suas próprias condições.

Jack Draper é um dos nomes mais promissores do circuito masculino, enfrentando obstáculos difíceis, mas mantendo a ambição de romper o domínio de Alcaraz e Sinner. O próximo ano promete ser decisivo para essa jovem geração que tem tudo para sacudir o mundo do tênis.

Fonte: The Independent