A francesa Caroline Garcia, conhecida por sua sinceridade dentro de quadra, decidiu dar um basta na carreira aos 30 anos e contou em detalhes como foi o desgaste mental que a levou a optar pela aposentadoria prematura. Em entrevista ao podcast “Courtside Connection”, ligado ao torneio de Roland Garros, Garcia revelou que os últimos dois anos foram os mais difíceis da sua vida dentro do esporte.

“As duas últimas temporadas foram muito complicadas para mim”, disse ela. “Eu estava decepcionada com meus resultados, mas o pior era que eu não dormia bem, meu humor estava abalado, e até conversei com meu marido dizendo que quando eu parasse, jamais pisaria numa quadra de novo”.

Apesar do sofrimento, Garcia esclareceu que o problema não era o tênis em si: “Eu não odiava tênis, eu odiava o lugar onde eu estava naquele momento – todo o estresse e expectativa que eu mesma colocava em mim”. Com o apoio do marido e de sua psicóloga, ela conseguiu reencontrar o prazer no esporte e decidiu disputar mais uma temporada, dessa vez definindo as próprias regras.

A decisão de parar foi consciente. “Foi importante terminar porque eu quis, não porque meu corpo não aguentava mais ou porque eu odiava jogar”. Essa postura fez com que se sentisse em paz com o fim da carreira.

Roland-Garros: o sonho de uma vida

Garcia escolheu o palco mais especial para anunciar sua aposentadoria: o saibro de Roland-Garros, o Grand Slam de Paris onde alcançou grandes conquistas, especialmente nas duplas, onde foi bicampeã. O título de simples, porém, sempre foi seu sonho maior.

“Ganhar Roland-Garros em simples era minha meta, meu sonho”, contou. “Saber que isso não iria acontecer foi emocionante. Mas tenho muito orgulho dos meus títulos de duplas, especialmente o segundo, que veio de uma forma totalmente inesperada”.

Mesmo lesionada e longe do seu melhor físico, Caroline encarou o último torneio em casa com determinação. “Fiz de tudo – fisioterapia, treinos, tratamentos – só para estar em quadra. Muitas vezes em Roland-Garros joguei estressada e sem aproveitar. Dessa vez, quis sentir o carinho da torcida”.

Um adeus barulhento em Nova York

O verdadeiro fim da jornada de Caroline veio meses depois, em Nova York, no US Open. A tenista aceitou um convite especial (wildcard) para o torneio, decidida a não deixar sua despedida ser em Paris.

“Não queria que Roland-Garros fosse meu último torneio”, explicou. “Me preparei muito bem para Cincinnati e para o US Open sabendo que iria encerrar ali”.

O US Open de 2022 tinha sido um dos momentos de maior destaque da carreira de Garcia, quando chegou à semifinal. “Cada partida naquele torneio foi sólida. Foi meu melhor Slam e eu realmente me diverti”.

Mas para a francesa, o que ficou marcado foi a atmosfera do evento: “É sempre barulhento, agitado e exaustivo”. Ela lembra de uma partida à noite na cancha Armstrong: “Perguntei para o árbitro após o aquecimento se sempre era tão barulhento. Ele disse que sim. Você tem que se acostumar com esse burburinho constante. Mesmo em Manhattan, a cidade nunca para”.

Rivais que desafiaram seus limites

Quando o assunto são os adversários mais difíceis, Garcia não hesita em destacar duas rivais que marcaram sua trajetória.

Petra Kvitová não me dava tempo nenhum”, relembra. “Ela batia muito forte e com uma batida reta que eu mal conseguia reagir. Parecia que a bola estava em mim antes de eu terminar o movimento. Jogar contra ela em quadras cobertas era ainda pior – tudo era mais rápido e ela podia tirar a raquete das minhas mãos. Com Petra, eu sentia que tinha que arriscar tudo, porque jogar seguro significava derrota”.

Simona Halep representava um desafio diferente: “Ela fazia você trabalhar por cada ponto. Você podia fazer três, quatro, cinco bolas boas, mas ela sempre conseguia mandar mais uma de volta. Contra ela, tinha que ser agressiva e ir com tudo nas minhas batidas, mas mesmo assim ela sempre me fazia jogar um ponto a mais. Foi mentalmente e fisicamente exaustivo”.

Essa diferença entre o jogo das duas rivais fez Garcia desenvolver estratégias distintas. “Com Petra, eu precisava reagir mais rápido e tentar tirar o tempo dela, mesmo sabendo que essa era a força dela. Com Simona, a paciência e a disciplina eram essenciais – achar o momento certo sem pressa para atacar. Foram desafios muito distintos, mas ambas me levaram ao meu limite”.

Caroline Garcia encerra sua história no tênis profissional com sinceridade e muita autenticidade, deixando um legado de paixão e coragem para as próximas gerações.

Fonte: Tennis Up To Date