Evelyn Webster, a primeira mulher da Nova Zelândia a competir no torneio de tênis mais prestigioso do mundo, Wimbledon, faleceu esta semana aos 101 anos. Ela disputou o torneio sob seu nome de solteira, Evelyn Attwood, ainda na metade do século passado, deixando um legado que inspira até hoje.
Desde muito jovem, Evelyn já chamava a atenção nas quadras. Aos apenas 11 anos, seu talento começou a se destacar. Em fevereiro de 1940, o jornal Sydney Morning Herald noticiou a participação de jogadores australianos nos campeonatos neozelandeses em Wellington, destacando Evelyn no torneio júnior sub-18. O artigo mencionava: “Competidoras de destaque este ano foram… Rosemary Hodges, de Auckland, que conquistou uma vitória apertada na categoria feminino contra Evelyn Attwood, de Levin. Como ambas têm apenas 11 anos, elas devem se tornar jogadoras de primeiro nível. Evelyn também participou do campeonato feminino, chamando bastante atenção pelo seu tamanho pequeno e golpes fortes.”
Apesar de ser geralmente menor que suas adversárias, Evelyn sabia driblar essa desvantagem. Seu filho Tom Webster relembra: “Ela sempre dizia que seu grande truque era sua velocidade, se deslocava rápido como um rato para colocar a bola na quadra.”
Em 1941, Evelyn conquistou o título nacional júnior sub-18 em Christchurch. Já em 1948, foi campeã nacional na categoria feminina de simples, e ficou claro que, para buscar competitividade maior, ela precisaria ir para a Inglaterra.
Naquela época, os artigos costumavam comentar também sobre a aparência e roupas das atletas. Após sua vitória nacional em 1948, um trecho dizia: “A esguia Srta. Attwood de hoje mal lembra a menina rechonchuda que venceu o júnior cerca de sete anos atrás, tendo perdido peso até nos últimos 12 meses. Ela também mudou o penteado, abandonando a franja e adotando cabelos escuros até os ombros.”
Para bancar a viagem à Inglaterra, Evelyn precisou juntar bastante dinheiro. “Ela trabalhou para o exército como digitadora em Parnell antes disso. Não existiam patrocínios como hoje, então ela teve que se ajudar sozinha”, conta Tom.
A viagem foi por navio e demorou semanas. Nascida ao norte de Auckland, em Helensville, ela passou boa parte da infância em Levin, onde seu pai era diretor escolar. Lá, Evelyn conviveu com muitos colegas Māori, aprendendo diversos cantos daquela cultura, que levava consigo até nas quadras de Wimbledon.
“Ela cantava músicas do batalhão Māori enquanto jogava. Também chegou a gravar um disco com a irmã, embora, segundo Tom, não teria sido um sucesso entre os dez primeiros hits.”
Baseada na Inglaterra de 1951 a 1954, Evelyn conciliou o tênis com o trabalho de secretária em Londres. Participou de quatro edições de Wimbledon, tanto em simples quanto em duplas femininas, e teve apoio de marcas como a Dunlop, que forneceu raquetes e ajudou com parte do custeio das viagens para os campeonatos regionais da Inglaterra.
Sem treinador, ela se virava para treinar. Tom relembra que Evelyn encontrou um beco em Kensington com um muro de tijolos irregular onde batia bola sozinha, e o rebote imprevisível ajudava a melhorar seus reflexos e força.
Evelyn voltou para a Nova Zelândia no final de 1954 para ficar perto do pai, que estava envelhecendo, e por desânimo, pois não estava mais vencendo como antes: “Ela dizia ‘se não ia ganhar, nem valia a pena’.” Porém, o amor pelas conquistas permanecia. A família guarda até hoje malas cheias de troféus, taças e lembranças de tantos torneios disputados.
Após encerrar a carreira no tênis, Evelyn manteve-se ativa. Junto com o marido, foi idealizadora da ancoragem para marinheiros em Smokehouse Bay, Port Fitzroy, no Great Barrier, criando instalações comunais conhecidas como “Webster’s Wonderland”. Com milhares de árvores plantadas e muita manutenção, seu estilo de vida ativo e paixão pelo esporte também contribuíram para sua longevidade.
Tom conta ainda que a mãe adorava uma bebida de vez em quando e que após a morte do pai, ela continuou viajando e explorando ao máximo, escalando montanhas e aproveitando a vida com espírito aventureiro.
Evelyn passou a segunda metade da vida em Milford, na North Shore de Auckland, onde nos últimos dias reuniu familiares e amigos para um memorial no Milford Cruising Club, celebrando a trajetória de quem foi uma verdadeira pioneira do tênis na Oceania.
Fonte: ODT