Gabriel Diallo fala com uma humildade que faz você parar e realmente prestar atenção. Sua voz transmite calma — não o tom de quem se gaba do sucesso, mas sim de alguém profundamente consciente do caminho que trilhou para chegar até aqui.

Com 24 anos, o canadense sabe que sua jornada não começou numa quadra de tênis, mas em 1991, quando seus pais deixaram a Rússia depois da queda da União Soviética em busca de uma vida melhor. Sua mãe ucraniana, Iryna, e o pai guineano, Moubassirou, escolheram Montreal, no Canadá, para recomeçar a vida.

“Tenho certeza que eles tinham sonhos e ambições enquanto viviam lá”, falou Diallo em Paris, durante uma entrevista exclusiva ao Esporte Tênis. “Eles tiveram que adiar esses planos para virem para o Canadá e começarem uma nova vida. Tenho certeza que não chegaram com muito dinheiro. Sei bem o que eles tiveram que enfrentar para me colocar nesta posição.

Minha mãe trabalhava em dois empregos, meu pai tinha que fazer um trabalho que não gostava muito. Estar consciente disso me motiva a dar tudo de mim em qualquer coisa que eu faça. É meu jeito de retribuir a eles.”

Em 2025, Diallo vive uma fase sólida. Natural de Montreal, ele alcançou sua melhor posição no ranking mundial da ATP em agosto, ficando em 33º lugar. Esse salto veio depois de conquistar seu primeiro título da ATP Tour na grama de ‘s-Hertogenbosch, na Holanda.

Com 2,03m de altura, um saque potente e golpes de base explosivos, Diallo parece a definição de um jogador moderno e poderoso. Mas sua entrada no tênis não foi planejada, foi quase um golpe de sorte.

“Meus pais só queriam me dar a oportunidade de estudar e ter uma vida melhor do que a deles. Esse sempre foi o principal objetivo, mas eu simplesmente me encantei pelo esporte enquanto crescia”, conta. “Eu era superativo… Me colocaram para jogar tênis e, por algum motivo, aquilo ficou.

Quando eles viram nos meus olhos que eu queria jogar, apostaram tudo, assim como eu. E acabou que me tornei um tenista profissional.”

O comprometimento dos pais e a determinação pessoal de Diallo tiveram uma recompensa inesquecível. Na final de ‘s-Hertogenbosch, quando ganhou com uma bela esquerda contra o amigo Zizou Bergs, ele caiu no chão em descrença. Ele tinha acabado de conquistar um título ATP.

Assista à conquista do primeiro título ATP por Diallo

Mas esse episódio foi apenas um dos muitos momentos que simbolizam os sacrifícios feitos por ele. Destaque na Universidade de Kentucky, nos EUA, Diallo lembra bem a emoção de ganhar a bolsa de estudos para jogar tênis na faculdade.

“Minha família e eu ficamos muito empolgados com isso. Pensamos que tudo o que veio depois foi um bônus”, relembra. “Consegui educação gratuita, um diploma universitário… Mas as coisas aconteceram rápido e, quatro anos depois, já estava jogando na ATP Tour, então estamos todos muito felizes.”

Hoje sorridente, sua trajetória foi longe de ser fácil. Antes da faculdade, ele passou três anos treinando na academia de Sam Aliassime, pai do também canadense e ex-top 10 mundial Félix Auger-Aliassime, no Quebec. Esse período ajudou Gabriel a reencontrar confiança no próprio potencial.

“Não tive os melhores resultados na adolescência. Tenho certeza que muitos dirão que eu tinha potencial, mas ainda não sabia como mostrar isso nas quadras. Precisava de tempo para evoluir”, admite. “Tive muitos momentos de dúvida e vontade de desistir porque as coisas não iam bem.

Nessa idade, é difícil enxergar o futuro a longo prazo, onde você pode estar em cinco ou dez anos. Mas felizmente meus pais nunca desistiram, e o pai do Félix teve um papel fundamental, me dando uma chance na academia dele. Depois disso, fui para a faculdade, e nada foi igual.”

Na semana passada, Diallo enfrentou Félix pela primeira vez na série Lexus ATP Head2Head, um momento simbólico para ambos. Com só um ano de diferença, Félix foi quem despontou primeiro, conquistando quatro títulos em 2022, enquanto Diallo ainda jogava no colégio.

Agora, Gabriel Diallo já faz parte do grupo dos principais canadenses no circuito, com um saque estrondoso, confiança silenciosa e uma compreensão profunda de onde tudo começou. Enquanto pisa nas quadras do Rolex Paris Masters nesta semana, seu foco é claro: continuar evoluindo, continuar acreditando e honrar os sacrifícios que deram origem a tudo isso.

Fonte: [ATP Tour](/em/atp-tour/)