A temporada da ATP nem termina de verdade; ela apenas dá uma pausa rápida. O Masters de Paris, que está rolando agora, tem aquele clima de última música antes das luzes se acenderem. As partidas são em quadras cobertas, o público já com cachecóis e os jogadores parecendo estar no limite do desgaste. Mas, se você prestar atenção, Paris sempre deixa pistas sobre o que esperar em Melbourne.
Todo ano tem aquele jogador que acaba a temporada com tudo – tão quente que é difícil esfriar. O Masters de Paris mostra exatamente quem ainda está com fome de vitória, mesmo quando o resto já pensa em praia e descanso. Brilhar por lá não garante título no Australian Open, claro, mas quase sempre indica o que janeiro vai trazer, ainda mais pra quem curte apostar no tênis.
Lembra do Jannik Sinner na última edição? Ele parecia inteiro, rápido, decidido e sem forçar demais. Poucas semanas depois, chegou em Melbourne e desmontou tudo – inclusive o Novak Djokovic. Para quem acompanhou como ele finalizou a temporada, não foi surpresa. A forma dele não apareceu do nada em janeiro; ele trouxe o embalo direto de novembro.
E essa história já se repetiu antes. Daniil Medvedev, Alexander Zverev e Novak Djokovic são exemplos de atletas que fecharam bem em Paris e tiveram bons começos no circuito australiano. Não é uma questão só da superfície da quadra. Paris é frio e com quadra rápida coberta; Melbourne é seca e com quadra rápida também, porém ao ar livre. O que conta é o timing. Quem termina o ano firme, enfrentando o cansaço de peito aberto, chega na Austrália com o motor já quente.
Mas tem outro lado dessa moeda: Paris também mostra quem está fisicamente no limite. Quando o tour chega na França, os corpos já estão no limite – é comum ver atletas com algumas partes do corpo enfaixadas, mancando ou fazendo checks constantes nos ombros. Essas quebras aparecem de novo lá em janeiro, porque a pré-temporada é curta demais para consertar um corpo desgastado demais.
Fique de olho nos movimentos dos jogadores em Paris, não só os vencedores, mas também nos que conseguem se recuperar. Aqueles que mantém as pernas firmes nas trocas longas, que ainda correm atrás de uma bola curta no terceiro set – esses são os nomes para marcar no seu calendário para Melbourne.
Os mais jovens encaram Paris como um teste. Eles chegam com os olhos arregalados, enfrentam cabeças-de-chave no caminho e tentam chegar o mais longe possível. Se conseguem avançar no torneio, essa confiança não desaparece nos treinos de dezembro, pelo contrário, só cresce. E isso fica claro no começo da temporada australiana, quando eles parecem que realmente pertencem ao circuito.
Para os técnicos, Paris é o ensaio geral. É hora de testar ajustes, como um novo alvo no saque ou uma posição diferente para o retorno, e ver se essas mudanças funcionam sob pressão. Os dados podem variar, mas o ritmo, não. Pontos curtos, jogo agressivo desde o primeiro golpe, tranquilidade mesmo com a torcida barulhenta – tudo isso é a preparação para Melbourne que está bem na nossa cara.
Em janeiro, as manchetes vão falar das surpresas e de quem “encontrou” a forma ideal. Mas quem acompanha mesmo sabe que a forma não nasce do nada; ela sobrevive ao inverno.
Então, será que o Masters de Paris pode mesmo nos dar pistas sobre o Australian Open? Não pelos números, mas pelo que o corpo e a linguagem dos jogadores dizem. Na forma como eles voltam para a linha após longas trocas, em quem ainda acredita que pode ganhar mais. A temporada até parece estar acabando, mas Paris mostra quem já está de olho no começo do próximo capítulo.
Fonte: Ubitennis
