Como dizer adeus a algo que deu sentido à sua vida? Essa é a pergunta que Rohan Bopanna, uma das maiores referências do tênis indiano, usou para iniciar seu anúncio de aposentadoria no último sábado.

Com 44 anos, o gigante de 1,93m da região de Coorg, Índia, despede-se após uma carreira de mais de 20 anos, marcada por longevidade, honestidade e conquistas globais, especialmente nas duplas.

Bopanna virou profissional em 2003 em um momento conturbado para o tênis indiano. Em meio a rivalidades fora de quadra, como a famosa tensão entre Leander Paes e Mahesh Bhupathi, além do surgimento da jovem estrela Sania Mirza, que revolucionou o cenário do esporte feminino no país, ele construiu sua própria identidade.

Inicialmente dedicado ao simples, Bopanna alcançou o melhor ranking da carreira em 2007, na 213ª colocação, mas foi nas duplas que encontrou seu lugar ao sol. Com dois títulos de Grand Slam e duas medalhas de ouro nos Jogos Asiáticos, sua força veio de um potente saque – aprimorado ao cortar blocos de madeira – e uma direita agressiva.

Apesar de ter disputado sua primeira final de Grand Slam em 2010, ao lado do paquistanês Aisam-ul-Haq Qureshi, seu auge veio após a era de Sania Mirza, quando a Índia precisava de um novo herói.

Em 2017, com 37 anos, conquistou seu primeiro título Grand Slam no saibro de Roland Garros ao lado da canadense Gabriela Dabrowski. No ano seguinte, brilhou nos Jogos Asiáticos de Jacarta, faturando o ouro nas duplas masculinas com Dvij Sharan.

Depois da pandemia de COVID-19, quando as grandes estrelas do tênis começaram a diminuir seu ritmo, Bopanna continuou firme, mesmo já passando dos 40. Nos Jogos Asiáticos de Hangzhou em 2023, faturou o ouro nas duplas mistas com Rutuja Bhosale.

Sua consagração tardia veio aos 43 anos e 10 meses, ao conquistar o título de duplas masculinas do Australian Open 2024 – 14 anos depois da primeira final perdida no US Open com Qureshi. Ao vencer na Austrália, tornou-se o jogador mais velho a ganhar um Grand Slam e, pouco tempo depois, o primeiro número 1 do mundo a estrear no topo após os 40 anos.

Porém, talvez o momento mais emblemático de Bopanna tenha sido na final de duplas masculinas do US Open 2023, quando, ao lado do australiano Matthew Ebden, demonstrou enorme espírito esportivo. Durante o ponto decisivo, Bopanna admitiu que a bola tocou sua mão antes de entrar, concedendo o ponto aos adversários, numa atitude rara no circuito.

Essa honestidade reflete bem sua carreira – longe de ser um prodígio ou acumulador de títulos, Bopanna superou suas limitações com muita perseverança.

Para aqueles que buscam sucesso precoce mas enfrentam dificuldades na meia-idade, ele é um exemplo inspirador de resistência e recompensa tardia.

Embora deixe uma lacuna enorme no tênis indiano – agora sem nenhum vencedor indiano ativo em Grand Slams –, Bopanna pretende continuar contribuindo nos bastidores.

“Este esporte me deu tudo, e agora quero devolver algo – ajudar sonhos de jovens de cidades pequenas a acreditarem que onde começam não define até onde podem chegar”, declarou.

Como, afinal, dizer adeus a algo que deu sentido à sua vida?

Fonte: The Bridge