O tênis sempre teve um ar sofisticado, enquanto cassinos são vistos como algo mais popular e barulhento. Essa diferença cultural parece estar no centro de uma grande polêmica em Nova York, que já começa a afetar o mundo do tênis. A USTA (United States Tennis Association), entidade responsável pela organização do US Open – um dos quatro torneios Grand Slam do circuito profissional, que acontece anualmente no Nacional Tennis Center, em Flushing Meadows –, entrou com uma ação judicial contra a cidade de Nova York para tentar barrar o projeto de um cassino planejado para ser construído justamente do outro lado do parque.
A confusão surge justamente porque a USTA mantém um contrato de arrendamento de 99 anos com a cidade que garante à entidade certo controle sobre o parque durante as semanas do US Open, que dura cerca de 23 dias. Entre as cláusulas desse contrato está uma chamada “cláusula de superioridade”, que impede eventos concorrentes (exceto jogos do time de baseball New York Mets) e garante acesso prioritário a estacionamentos e controle sobre marketing e concessões no local durante o torneio.
O projeto do cassino, apoiado pela Hard Rock Entertainment – marca conhecida mundialmente pelo seu foco em entretenimento musical e rock’n’roll –, promete “365 dias de entretenimento” no local, inclusive com uma casa de shows que pode ficar muito próxima às áreas do US Open. Essa proximidade, para a USTA, pode prejudicar o evento e o Centro Nacional de Tênis, conforme destaca o processo judicial, que fala em “ameaça real e potencialmente desastrosa” para o US Open.
Além disso, a USTA alega que solicitou à cidade o direito de revisar o contrato de arrendamento do cassino para garantir que seus direitos não seriam violados, mas teve essa solicitação negada. A cidade teria recomendado que a associação esperasse pela próxima administração, que só assumirá após a decisão final sobre o projeto. Para a USTA, isso indica uma intenção da cidade de ignorar suas obrigações contratuais.
A entidade também relembrou um episódio que quase gerou conflitos anteriormente: em 2025, mesmo com seu contrato vigente, a promotora QBC anunciou um show do músico Billy Joel no Citi Field durante o US Open. O show acabou não acontecendo, pois o artista adoeceu na época, mas a USTA usou o caso para mostrar que já foi prejudicada antes por eventos concorrentes no período do torneio.
Apesar do processo, um porta-voz da USTA esclareceu em entrevista que a associação não é contra a existência de cassinos em geral. O problema é o impacto que esse projeto específico poderia ter sobre o US Open, um dos eventos de maior tradição do tênis mundial, que acontece no saibro duro do National Tennis Center e atrai milhares de fãs ao redor do mundo.
Com o processo em andamento, o plano do cassino deve sofrer atrasos e complicações, já que a USTA pede que o juiz revise o contrato de arrendamento, um procedimento que pode adicionar burocracia e retardar qualquer avanço no licenciamento. Para eles, uma simples indenização financeira não seria suficiente para reparar possíveis danos, reforçando a seriedade da disputa.
Essa história é um exemplo claro de como interesses diferentes podem colidir até em esportes tradicionais, mostrando que nem sempre é fácil conciliar entretenimento, negócios e grandes eventos esportivos.
Fonte: Curbed
