A lendária Venus Williams vai pisar novamente na quadra do US Open na noite desta segunda-feira para sua impressionante 25ª participação em simples no torneio – um recorde que só reforça sua presença constante em Flushing Meadows, tão emblemática quanto o próprio Arthur Ashe Stadium.

Com 45 anos, dois anos após sua última partida em Grand Slam e atualmente ocupando a 610ª posição no ranking mundial, Venus enfrenta Karolína Muchová, tcheca e 11ª cabeça de chave, que foi vice-campeã do Aberto da França em 2023 e já chegou duas vezes às semifinais em Nova York.

Embora o desafio seja gigantesco, o simbolismo de sua presença é ainda maior. Venus é a competidora mais velha em simples no US Open desde Renée Richards, que jogou há 44 anos. Sua estreia aconteceu aos 17 anos, em 1997, ano em que o estádio Arthur Ashe foi inaugurado, substituindo o Armstrong como a principal arena do torneio. Naquela ocasião, Venus foi a primeira jogadora não cabeça de chave da Era Aberta a chegar à final, onde perdeu para Martina Hingis. Agora, 28 anos e uma carreira brilhante depois, ela retorna com um lugar garantido na história do tênis, mas com o mesmo espírito competitivo.

Com sete títulos de Grand Slam em simples – cinco em Wimbledon e dois no US Open – além de 14 títulos em duplas ao lado da irmã Serena Williams, Venus já foi número 1 do mundo em simples e duplas, ganhou quatro medalhas de ouro olímpicas e acumulou cerca de 43 milhões de dólares em prêmios, sem contar os ganhos milionários com patrocínios e outros projetos. É uma das atletas mais reconhecidas mundialmente, ultrapassando barreiras culturais e de longevidade no esporte.

Depois de um hiato de 16 meses, durante o qual enfrentou cirurgia para remoção de miomas uterinos e momentos de dúvidas, Venus voltou às quadras em julho no Washington Open. Lá, ela foi ovacionada por uma multidão que incluía até a estrela da NBA, Kevin Durant, e eliminou a jogadora número 35 do mundo, Peyton Stearns. Essa aparição mostrou que seu estilo agressivo, baseado em saque poderoso e jogadas diretas, ainda está afiado.

Na vida pessoal, Venus anunciou recentemente o noivado com o ator e produtor italiano Andrea Preti, a quem atribui grande apoio durante o seu retorno à competição. “Meu noivo está comigo e foi quem me incentivou a continuar jogando”, disse após a vitória sobre Stearns, que a tornou a jogadora mais velha a vencer um jogo em nível de circuito desde Martina Navratilova em 2004. Eles mantiveram a relação em privacidade até recentemente, mas agora aparecem juntos publicamente, inclusive em eventos como a Milano Fashion Week.

Muitos haviam pensado que Venus havia deixado o circuito silenciosamente, especialmente após a aposentadoria da irmã Serena e de outros ícones como Roger Federer, Rafael Nadal e Maria Sharapova. Contudo, ela nunca abraçou essa narrativa. “Acho que vou jogar tênis para sempre. Está no meu DNA. Não importa se é agora ou daqui a 30 anos… o tênis sempre será uma das partes mais importantes da minha vida”, afirmou.

E o que torna Venus Williams única, mesmo entre os atletas de maior longevidade, é justamente essa perseverança. Nenhum dos 609 jogadores melhores ranqueados do que ela está na casa dos 40 anos, muito menos com seus 45. Venus estreou profissionalmente em 1994, quando filmes como Pulp Fiction estavam em cartaz e bandas como Boyz II Men dominavam as paradas nos Estados Unidos.

Além das conquistas esportivas, Venus enfrentou com coragem o racismo e o sexismo no tênis, liderando campanhas por igualdade nos prêmios em torneios históricos como Wimbledon e Roland Garros. Ela é inspiração para uma geração de jogadoras negras americanas, incluindo nomes como Coco Gauff, Sloane Stephens, Taylor Townsend e Hailey Baptiste.

Sua participação no US Open deste ano coincide também com o 75º aniversário da estreia de Althea Gibson no campeonato nacional dos EUA, outra pioneira cuja importância Venus destaca como fundamental para a evolução do esporte.

Entre colegas, a admiração é unânime. Frances Tiafoe declarou: “Ela é uma das melhores atletas de todos os tempos. Ela e sua irmã não são apenas grandes para o tênis feminino, são ícones”. Já Naomi Osaka comentou sobre a repercussão acerca da idade: “Não gosto que a idade seja o foco principal nas manchetes. O que importa é a legenda que ela é.”

Embora seja fácil romantizar seu retorno, as condições atuais do esporte são implacáveis. Desde suas finais surpreendentes no Australian Open e Wimbledon em 2017, e sua consolidação no top 10 da WTA aos 38 anos, sua frequência e resultados diminuíram. Ela não vence uma partida no US Open desde 2019, e sua presença com convites especiais, como o recebido este ano, gera debates sobre se essas vagas deveriam ser destinadas a jovens talentos. Seu adversário atual, Muchová, com seu estilo variado e inteligência tática, pode explorar qualquer desgaste com facilidade, fazendo de uma possível vitória de Venus algo quase improvável.

Com bom humor, Venus comenta sobre sua forma atual: “Se eu bater muito forte, a bola sai. Então vou tentar bater um pouco menos forte para mandar dentro. O lado bom é que estou me divertindo controlando os pontos. Esse estilo de jogo é ótimo para mim.”

O ex-tenista americano Andy Roddick foi um dos maiores defensores da decisão da USTA em conceder o convite a Venus. “Não me importa se ela perder todos os jogos, devemos agradecer por ter tido Venus Williams no nosso esporte”, disse Roddick, campeão do US Open em 2003. Para ele, o convite é um presente do torneio à atleta e não uma concessão indevida.

Venus não tem pressa para buscar títulos grandes novamente: seu foco está no processo, na crença pessoal e na emoção de competir. “Quero ser minha melhor versão, essa é minha expectativa comigo mesma”, afirma. “Não jogo tanto quanto as outras jogadoras, então é um desafio diferente. Só quero me divertir, ficar relaxada e ser o meu melhor.”

Sua mensagem de perseverança e trabalho mental, físico e emocional vibra forte: “Não existem limites para a excelência. O que importa é o que você coloca na cabeça e o quanto investe nisso. Pode cair, ficar doente, se machucar, mas se continuar acreditando e se esforçando, há espaço para você.”

Se essa será sua despedida de Flushing Meadows ou apenas mais um capítulo de sua longa trajetória, Venus não planeja roteiros ou despedidas oficiais. Seu retorno às quadras do Arthur Ashe, mesmo que breve, já é motivo para celebração. Como ela mesma disse, “É extremamente empolgante estar de volta. Isso não envelhece, só fica mais emocionante.”

Fonte: The Guardian