Pela primeira vez em 35 anos, a série ATP Masters 1000 vai crescer e o novo palco será a Arábia Saudita. A ATP, em parceria com a SURJ Sports Investments — subsidiária do Fundo Público de Investimento da Arábia Saudita (PIF) — anunciou em 23 de outubro de 2025 que o país vai sediar um torneio de nível Masters 1000, com estreia prevista para 2028. Esse é um marco histórico tanto para o circuito quanto para a influência cada vez maior da Arábia Saudita no tênis mundial.
A ampliação da categoria Masters 1000 é inédita desde a criação da série, em 1990. Hoje, são nove torneios: Indian Wells, Miami, Monte Carlo, Madrid, Roma, Canadá, Cincinnati, Xangai e Paris. Com o novo evento, o circuito terá dez Masters 1000, consolidando a Arábia Saudita como uma das paradas mais importantes na elite do tênis masculino.
Andrea Gaudenzi, presidente da ATP, falou sobre a novidade em uma videoconferência: “Este é um momento de orgulho para nós, resultado de anos de trabalho. A Arábia Saudita tem mostrado compromisso genuíno com o tênis, não só no profissional, mas também no desenvolvimento da modalidade em todas as categorias. A ambição do PIF com o esporte é clara, acreditamos que fãs e jogadores vão se surpreender com o que vem por aí.”
Embora o torneio esteja confirmado para 2028, ainda não há definição sobre cidade sede, estádio ou data exata. Gaudenzi indicou que fevereiro, logo após o Aberto da Austrália, é a janela mais provável. “Será no começo da temporada, exatamente na primeira parte do ano”, comentou. A ideia é criar uma sequência no Oriente Médio, possivelmente alinhando o Masters da Arábia Saudita com os torneios tradicionais de Doha (Catar) e Dubai (Emirados Árabes), e também com a gira sul-americana no mesmo período.
O novo Masters terá chave com 56 jogadores e duração de uma semana, seguindo o modelo de Monte Carlo em formato e tempo. Diferente da maioria dos Masters 1000, que são obrigatórios para os principais atletas, o evento saudita deve ser opcional. Mesmo assim, devido ao prêmio expressivo e outros atrativos, dificilmente os top-players irão abrir mão de participar.
O contexto chega em um momento delicado para o calendário do tênis, que é alvo de muitas críticas dos jogadores, incluindo nomes de peso como Carlos Alcaraz, Taylor Fritz, Iga Swiatek e Coco Gauff. A temporada longa e intensa tem gerado preocupações sobre excesso de jogos e pouco tempo para descanso. A expansão recente de alguns Masters de uma para 12 dias só aumentou o debate. Holger Rune, número 10 do mundo, foi o último a sofrer uma lesão séria, reforçando a pressão por mudanças.
Gaudenzi abordou essas questões dizendo: “É um problema extremamente complexo, quase impossível de resolver sem alguém que tenha controle total do calendário. Difícil falar que jogamos demais quando, na verdade, os jogadores escolhem onde e quando competir. Concordo que a temporada de descanso é curta demais.” A ATP estuda reduzir o número total de torneios, mas a expectativa é que o prestígio e os incentivos financeiros do Masters saudita o tornem imperdível para os maiores jogadores.
A Arábia Saudita já tem envolvimento crescente no tênis. O país recebe as WTA Finals, evento de encerramento do circuito feminino, na capital Riad, e também as ATP Next Gen Finals, torneio que reúne as promessas do circuito, em Jidá. Além disso, a Arábia já sediou a exibição Six Kings Slam, consolidando sua posição crescente no esporte. O PIF é parceiro oficial do ranking mundial ATP e WTA, além de se associar a grandes eventos como Indian Wells e Madrid — e patrocinar o programa de licença-maternidade da WTA, reforçando o compromisso com a infraestrutura do tênis.
Com a chegada do novo torneio, o Saudi Masters também se tornará acionista da ATP Media, braço global de transmissão e mídia da entidade. Danny Townsend, CEO da SURJ Sports Investments, não descartou transformar o evento em uma competição conjunta masculina e feminina de duas semanas no futuro. “Existem benefícios em ter homens e mulheres jogando ao mesmo tempo, como aumento nas vendas de ingressos e outros ganhos comerciais. Mas isso é algo para se pensar lá na frente, nunca diga nunca.”
Por outro lado, a maior presença da Arábia Saudita no tênis gera polêmica. O histórico do país em direitos humanos, especialmente sobre direitos LGBTQ+ e das mulheres, tem sido criticado por vozes importantes do esporte. Lendas como Chris Evert e Martina Navratilova chegaram a publicar um artigo em 2024 afirmando que sediar torneios no país “não representa progresso, mas um retrocesso significativo”. A discussão amplia o debate se os investimentos sauditas são apoio real ao tênis ou uma estratégia de sportswashing, para melhorar a imagem global do reino.
Apesar das críticas, a direção da ATP segue otimista sobre o impacto do torneio. Gaudenzi disse: “Os planos são incríveis e vão elevar o nível da experiência para jogadores e torcedores.” A decisão de conceder um Masters 1000 para a Arábia Saudita mostra o crescimento da influência do país no tênis e as mudanças que o calendário global ainda vai sofrer.
Enquanto os detalhes finais sobre datas e local ainda não foram definidos, a notícia já movimenta o mundo do tênis. Será que o novo torneio vai fortalecer o esporte e ampliar seu alcance? Ou vai aumentar ainda mais a pressão numa temporada já cansativa? Por enquanto, uma coisa é certa: a ATP deu um passo ousado que marca o início de uma nova era para o tênis masculino, com a Arábia Saudita em papel de destaque.
Com o evento só vindo em 2028, as atenções já estão focadas em como esse marco histórico vai influenciar o futuro da ATP e do tênis como um todo.
Fonte: Evrimagaci
