Eliud Kipchoge não é só o maior maratonista da história — ele também é um mestre na arte de se expressar. Do outro lado, Sifan Hassan esbanja um humor afiado e uma personalidade que conquista qualquer plateia. Ambos, sem dúvidas, estão entre os maiores corredores de longa distância que já pisaram no planeta.

Na última quinta-feira, no icônico Sydney Opera House, a lenda queniana Kipchoge e a etíope naturalizada holandesa Hassan sentaram lado a lado para uma coletiva que prendeu a atenção de jornalistas e convidados especiais, a poucos dias do início da Maratona de Sydney.

“Essa cidade é linda, tão diversa”, disse Hassan, arrancando sorrisos enquanto falava sobre Sydney. “Alguns lugares aqui parecem na Europa, e eu nunca vi tanta água na vida!”

Com a plateia rindo ao fundo, Sifan destacou seu entusiasmo para a prova. “Se eu conseguir ganhar, vou amar ainda mais essa cidade.”

No domingo, uma multidão de 35 mil corredores tomará as ruas de Sydney para celebrar a maratona, que em 2025 estreia como uma etapa “major” — um título reservado aos grandes eventos do circuito mundial, ao lado das famosas Maratonas de Nova York, Boston, Chicago, Londres, Berlim e Tóquio. Desde novembro do ano passado, Sydney entrou para esse seleto grupo.

Às 6h30 da manhã, o disparo da largada dará início a uma corrida que simboliza muito mais que esporte. Para Kipchoge, “correr é um movimento”.

“Sydney agora faz parte de um movimento real, onde a gente move a mente, o coração, a alma”, afirmou com sua voz calma e serena, relembrando sua missão de transformar o mundo pelo atletismo. “Nada toca o coração e a mente como uma maratona.”

Sifan Hassan, que acaba de fazer história nos Jogos Olímpicos de Paris 2024 conquistando dois bronzes nas pistas (5000m e 10.000m) e o ouro na maratona, revelou que quase descartou competir no próximo mundial, justamente para recuperar-se da exaustiva sequência que incluiu uma soma de mais de 60 km corridos em sete dias.

“Nos primeiros dias após uma maratona eu mal consigo andar”, confessou, arrancando risadas. “Mas estar na primeira maratona major de Sydney, na Austrália, na cidade que sediou as Olimpíadas, é uma oportunidade que eu não queria perder.

“Foi uma decisão difícil, mas meu coração está aqui.”

Tanto Kipchoge, 40 anos, quanto Hassan, 32, já conquistaram praticamente tudo no mundo da corrida de longa distância. Eles ostentam medalhas olímpicas, títulos mundiais, vitórias nas grandes maratonas e registros históricos — inclusive o lendário Kipchoge que, numa corrida não oficial em Viena em 2019, foi o primeiro humano a correr a distância da maratona em menos de 2 horas.

Perguntados sobre o que ainda os motiva depois de tantas conquistas, Kipchoge respondeu com humildade e propósito: “Não preciso provar mais nada, mas quero continuar promovendo esse movimento.”

E ele explica: “Correr é vida, eu acredito na distância. Estou aqui, no hemisfério sul, na Austrália, para fazer desse país uma nação de corredores. Quero que todo mundo saia para correr, se divirta e se sinta livre. Sempre digo: se você não corre, é prisioneiro. E prisioneiro não é destino para ninguém.”

Já a carismática Sifan brinca com sua própria curiosidade. “Eu sou uma pessoa muito curiosa e faço coisas loucas”, revelou. “Acho que as pessoas não deveriam parar de se exercitar até morrer. Para viver mais — 80, 100, 120 anos!”

Na hora de contar como vai comemorar o fim da Maratona de Sydney? “Eu não bebo nem vou para festas”, confessou aos risos. “Eu só vou comer sorvete!”

Com essa leveza e determinação, a legião de fãs do atletismo já está contando as horas para esse domingo histórico em Sydney.

Fonte: Nine