Se você já ouviu a famosa frase de Rudyard Kipling sobre tratar o triunfo e o desastre da mesma forma — aquela que está até escrita em letras garrafais acima da entrada dos jogadores na Quadra Central de Wimbledon —, vai entender perfeitamente a vida de Roscoe Tanner. O ex-tenista, finalista de Wimbledon em 1979, viveu uma verdadeira montanha-russa digna de roteiro de cinema, com episódios de sucesso meteórico, irresponsabilidade crônica e até prisão na Alemanha por dívidas.

Roscoe Tanner não chegou ao topo por acaso. Crescido nos arredores das Montanhas Apalaches, uma região rural que muitas vezes é retratada de forma dura, ele veio de uma família de classe alta – seu pai era advogado de sucesso – e também conquistou um diploma em Direito pela conceituada Universidade Stanford. Mas foi no tênis que ele viu um caminho de carreira, e que carreira!

Parte da primeira geração de tenistas profissionais que viviam integralmente do esporte, Tanner batalhou por 15 anos contra lendas como Ilie Nastase, Jimmy Connors e Björn Borg. Um dos pontos altos foi na final do Australian Open de 1977, quando venceu Guillermo Vilas para conquistar seu único título de Grand Slam. Seu ponto forte era o saque poderoso e devastador, disparado com a mão esquerda, que já foi medido a impressionantes 246 km/h – uma verdadeira metralhadora na época. Com isso, chegou a ser o número 4 do mundo, acumulando 16 títulos e cerca de £1,2 milhão em premiações, um valor enorme para aquele tempo.

Mas nem tudo foram flores. O caminho de Tanner também teve suas sombras. Sua trajetória é marcada por episódios de irresponsabilidade financeira que culminaram em uma inesperada prisão na Alemanha por evasão de dívidas, um revés que lembra a história do compatriota e também estrela do tênis Boris Becker, que também enfrentou problemas legais após a carreira.

Durante uma conversa nos bastidores do US Open, Tanner revelou que sua passagem pela prisão o fez querer contar sua história para ajudar outras pessoas a aprenderem com seus erros: “Enquanto estava na prisão, decidi que precisava contar minha história. Queria mostrar os erros que cometi para, quem sabe, ajudar outras pessoas.”

Além da intensidade dentro de quadra, o ex-jogador relembrou com carinho a camaradagem da antiga turma do tênis profissional: “Naquela época, o circuito era quase como uma pequena cidade itinerante. A gente brigava muito nas quadras, mas depois se juntava para tomar uma cerveja e jantar. Tinha muito companheirismo. Até os australianos lendários como Ken Rosewall, Rod Laver e Roy Emerson me davam conselhos. Hoje, tudo é diferente: você tem seu parceiro de treino, equipe, sua casa… mal vê os outros jogadores.”

Roscoe Tanner é hoje um exemplo de que a vida de um atleta vai muito além dos títulos, com lições valiosas de superação e aprendizado. Para quem acompanha a trajetória do tênis, sua história é um lembrete de que o saques mais potentes e as vitórias mais brilhantes podem vir acompanhadas de desafios inesperados.

Fonte: The Telegraph